“No Tao a Vida e o Real se confundem. O Real é a Vida. A Vida é o Real”, Marc Halévy.
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A LEITURA DO TAO: PARA A REINVENÇÃO COTIDIANA DE UMA FILOSOFIA DA IMPERMANÊNCIA.
Yue MINJUN, Sky,1997.
Neste começo de século, tão fortemente marcado pela velocidade das mudanças – econômicas, tecnológicas, culturais e do cotidiano – faz sentido que uma filosofia de vida vinculada à natureza, que contempla o movimento e a impermanência ressurja como um alento. Um conceito que engloba numerosos sentidos e se abre a interpretações diversas, o Tao é uma palavra-princípio de um jeito muito chinês (ou seja, muito estrangeiro) de ser. Numa tradução rápida, quer dizer processo, e “Tudo é processo”. Tudo é fluxo, interdependência, e transformação contínua.
A origem milenar do Tao, na antiga tradição da filosofia chinesa, está distante de nós em termos de geografia, cronologia e língua. Porém, o fato de ser uma noção um tanto obscura, para nós ocidentais, só aumenta o fascínio. Se compreendêssemos o Tao, quem sabe, compreenderíamos a nós mesmos.
Em A Leitura do Tao, o filósofo francês Marc Halévy faz uma apresentação contemporânea e acessível deste pensamento. Segundo ele, a filosofia do Tao pode ser de grande valia nos dias de hoje, e atuar como um antídoto para a atual desarmonia nas relações entre homem e Natureza.
“Aprender a ler a unidade do Tao, a interdependência de tudo com tudo, a impermanência de tudo… e tirar daí todas as consequências práticas. Produzir todas as obras fecundas, mas não se prender a elas. Fazer tudo que é possível fazer e deixar fluir. Prestar atenção ao real presente e vive-lo plenamente, com plena atenção. Viver presente no presente. Estar todo inteiro naquilo que se faz, aqui e agora. Não pensar em outra coisa a não ser naquilo que se faz. Não dissociar, por conseguinte, o pensamento do ato. Nunca se deixar distrair, ou seja, nunca se deixar desviar do real presente”.
O convite não é dogmático: que cada um pratique o seu próprio Tao. Que encontre seu próprio caminho. Até porque, sabedoria que chega até nós encontra sua qualidade, não na “verdade” de 3500 anos atrás, mas na riqueza de sentidos e na profunda fecundidade interpretativa de alguns ideogramas, que fundem pensamento e imagem. Sua finalidade não é informar, mas inspirar. Semear ideias para que estas sejam reinventadas criativamente no dia a dia. “Tudo que é fecundo é verdadeiro”, diz Halevy.
Confira, abaixo, mais alguns trechos do A Leitura do Tao:
“Tao é uma palavra com múltiplos sentidos. Mas evoca sempre o movimento, a impermanência, o fluxo, a atividade. E aponta sempre para o Real, que escrevo com maiúscula para mostrar melhor que aqui se trata da realidade metafísica última e primeira: o que existe, a própria existência que é transformação incessante de si mesmo, que é essa transformação, esta metamorfose, a própria realização. Pois o Real é vivo. Ele é a Vida – igualmente com maiúscula, porque é também princípio metafísico – para além de todas as vidas e existências singulares. No fundo, no Tao a Vida e o Real se confundem. O Real é a Vida. A Vida é o Real.”
“Além disso, sou radicalmente, totalmente, indissoluvelmente parte integrante deste Real e de sua lógica de realização. Se estou em desacordo com ele (e com ela) eu é que estou radicalmente errado. Por que eu também sou este Real; e odiá-lo e combate-lo é também odiar-me e combater-me a mim mesmo.”
“Ter êxito na vida é construí-la pacientemente, dia após dia, em harmonia com o Tao, ou seja, na auto realização interior e na paz exterior. Estamos aqui muito longe da aparência. O importante não é ser visto, mas ver. O essencial não é ser imensamente rico, mas tornar-se ricamente imenso.”
“A fim de ler o Tao, nós ocidentais devemos, com o risco de subverter tudo em nossa vida interior, abandonar todo dualismo. Não existe a idealidade e a realidade, não existe o eu e o mundo, não existe o cá-em-baixo e o lá-em-cima, não existe o isto e o aquilo. Existe o Tao e nada mais. Não existe senão o Tao que tudo engloba, que tudo anima, que tudo gera, que tudo absorve. Não existe senão este Tao, do qual tudo quanto existe é apenas manifestação, reflexo, figura, aspecto, aparência.”
“Se Deus é o Tao, então Deus existe. Se Deus não é o Tao, então Deus não existe.”
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LIMA, A. A. A Leitura do Tao: para a reinvenção cotidiana de uma filosofia da impermanência. 2017. Disponível em; <http://www.ressonancias.com/a-leitura-do-tao>. Acesso em: dia/mês/ano.
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