Como você chama alguém que, de fato, viveu sua vida plenamente e chegou a ser ele mesmo? Um sábio, um mestre, um iluminado? Rumi foi um destes.
RUMI E A ÁRVORE DA VIDA
Imagem da série Árvores da Vida, KLIMT.
Como você chama alguém que, de fato, viveu sua vida plenamente e chegou a ser ele mesmo? Um sábio, um mestre, um iluminado? Rumi foi um destes.
Uma voz que vem de um lugar distante temporal e linguisticamente (seus textos foram escritos em árabe), Rumi foi um místico Sufi e professor que viveu no Império Persa, no século XIII. Hoje, surpreendentemente, é um dos poetas mais populares do Ocidente: Madonna e Demi Moore leem seus poemas em CD do Deepack Chopra, Leticia Sabatella faz o mesmo na versão nacional, seus livros vendem. O que encanta a tantos é que Rumi fala de amor.
Agora, existem diferentes formas de amor! Há o amor próprio, o amor erótico, o amor aos filhos, aos amigos… e aquele a que se refere Rumi é o da relação com o espírito, ou seja, com a instancia superior interna em cada um de nós, vivido como um êxtase amoroso.
Como Coleman Barks bem aponta, este não é um amor fácil, pois pressupoe uma (ao menos relativa) dissolução do eu. “Julgue a mariposa pela beleza de sua chama”, diz Rumi. Principalmente, não é o amor religioso, mas o amor do qual toda religião é uma saudade. Pressentimos, e talvez este seja a razão de seu sucesso atual, que Rumi nos conta sobre uma experiência que desejamos muito viver: a amplitude, a embriagues e o milagre do amor em si.
Rumi ensinava através de histórias/poemas/canções que são registros das suas vivencias e apontam o amor e o desejo de encontro como métodos de transformação da alma. A história abaixo foi traduzida livremente do volume The Illustrated Rumi.
A ÁRVORE DA VIDA
Ao contar uma história, um sábio uma vez disse que na Índia existia uma certa árvore, e que quem comesse de seus frutos nunca ficaria velho ou morreria.
Um Rei, tendo ouvido este relato de alguém que queria se aproveitar de suas riquezas, ficou obcecado pela a árvore e seus frutos. Decidiu, então, enviar um emissário para encontrar a árvore e, por muitos anos, este emissário percorreu a Índia em busca do desejo de seu senhor. Ele perambulou de cidade em cidade, de montanha a vale, de ilha em ilha, de planície em planície, sem deixar nenhum local intocado por sua busca.
Todos aqueles a quem o emissário perguntava sobre a localização da árvore, riam-se dele, dizendo, “Quem procuraria por uma árvore dessas a não ser que fosse louco? Quem já teria gasto tanto tempo nesta busca a não ser que existisse uma boa razão?”
E haviam aqueles que respondiam sarcasticamente sobre a localização da árvore, “Em tal e tal lugar há uma árvore destas – uma árvore imensa, uma árvore verde, uma árvore altíssima, com galhos tão grandes que você não acreditaria”. E estas mensagens e conselhos magoavam e causavam dor ao emissário, pois ninguém estava nem um pouco disposto a ajudá-lo.
Mas o enviado, tendo se preparado para esta difícil missão, continuou tentando, e viajando e procurando pela árvore que seu senhor desejava tão ardentemente, ao ponto de estar financiando suas despesas por todo este tempo.
Eventualmente, no entanto, depois de uma procura tão longa e tão difícil, o enviado ficou exausto de sua investigação e não pode mais continuar. Não havia encontrado nenhuma pista da árvore, nem um resultado que indicasse a localização da árvore que daria a imortalidade e a vida eterna. Partiu-se o fio de sua esperança e ele abandonou sua busca.
Ele decidiu retornar ao Rei e partiu derramando lágrimas de desespero. No caminho, encontrou um sheik que lhe perguntou a porque ele se afligia tanto pela vida afora. O enviado relatou suas atribulações e seu esforço de encontrar a árvore da vida. O sheik riu e explicou que a árvore que ele buscava era a árvore do conhecimento dos sábios e que ela era muito alta, muito grandiosa e muito ramificada; e continha a água da vida vinda do Mar de Deus, que tudo abarca. “Você buscou a forma da árvore e não a essência. Às vezes, ela é conhecida como a árvore e, às vezes, o sol; às vezes, o mar e, às vezes, a nuvem.”
É aquilo de onde os mil lugares
A vida vem, eterna,
Apesar de sua fonte ser uma
Traz milhares de duplos
Inumeráveis nomes servem sua forma
E sem contorno contem toda virtude
Quem quer que a procure, encontra sua própria.
Porque apegar-se a uma forma ou outra?
Você perderá a árvore para encontrar o infortúnio
Só desapontamento será sua amargura
Atravesse o nome
E olhe a fonte mais de perto
A fonte mostrará o que você busca
Deixe a forma para trás.
(The illustrated Rumi, p 86)
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LIMA, A. A. Rumi e a Árvore da Vida, 2016. Disponível em; <http://www.ressonancias.com/rumi-e-a-arvore-da-vida>. Acesso em: dia/mês/ano.